Acordei e era futuro. Confesso que me espantei um pouco, mas eu sabia que aquela viagem no tempo iria acontecer um dia. Há tempos eu queria sair do presente medíocre e ir para um futuro inovador. Acostumei-me ao futuro na mesma velocidade que meus olhos se acostumaram à claridade.

No futuro, minha cama ainda era a minha cama. No futuro eu ainda tinha que me levantar com as minhas próprias forças. Senti as mesmas cerâmicas as quais eu sempre pisara. Rumei a porta do quarto e saí no corredor. Segunda porta à direita, entrei no banheiro. Para lavar o rosto, usei a fantástica e inovadora pia de sempre e me olhei no impressionante mesmo espelho de todo dia.

Do lado de fora da casa, continuei a explorar aquele estranho futuro tão parecido com o presente ao qual eu estava acostumado. Lá fora eu esperava ruas sujas, marginais trocando tiros, fome, miséria, pedintes. Ou mesmo robôs por todos os lados e pessoas em roupas reluzentes e com computadores acoplados. O que vi foi o mesmo ônibus escolar levando as mesmas crianças para a escola, que continuava sendo na rua de trás. Vi também as mesmas pessoas que sempre passam em frente a minha casa a caminho de seus trabalhos.

Entrei novamente em casa. Eu comecei a pensar: como eu poderia estar no futuro, se ele era a cópia exata do presente? Eu tinha quase certeza de que tinha viajado no tempo, mas parecia mais um dia comum em que eu tinha acordado nele após ter ido dormir na noite anterior. Comecei a pensar em como seria o futuro pra mim. Não com carros flutuantes, ou hologramas publicitários em todos os lugares, mas eu queria apenas que algo mudasse. Eu queria viajar no tempo pra ver minhas gerações, os filhos dos filhos dos meus filhos, se eles ainda teriam meus olhos. Queria ver até onde a inteligência artificial poderia ir. Queria poder saber sobre a paz no futuro, ou se o homem continuaria insistindo na idéia da guerra. Eu poderia saber sobre os grandes pensadores do futuro, sobre o próximo Martin Luther King, sobre as descobertas de curas. Plantas e bichos mutantes. Ver o pôr-do-sol em 5555.

Então eu percebi que o tempo todo eu sabia que já havia passado por aquilo tudo. Será que eu havia quebrado todas as leis da física e consegui ir parar numa outra dimensão? Ou será que estava num futuro tão distante, que tudo acontecia novamente, como se fosse um ciclo? Então muitas perguntas começaram a rodear minha cabeça. Comecei a lembrar de teorias loucas, de filmes que havia visto, de livros que havia lido, mas nada disso respondia às perguntas que se formavam na velocidade da luz em minha cabeça.

Sentado no sofá, olhava fixamente a parede, como se esperasse uma resposta dela para tantas perguntas. Foi quando olhei na estante e vi uma caixa. Nunca havia visto aquela caixa antes. Será que ela era o motivo de tantas perguntas em minha cabeça? Levantei, me aproximei e pude ler “pressione aqui para viajar para o futuro” com um botão logo abaixo. Hesitei um pouco. Pensei se aquilo realmente seria a solução. Afinal, eu já havia me decepcionado com aquele futuro presente e tinha medo de me decepcionar com o futuro prometido pela caixa. Apesar de tanto temor, eu não tinha nada a perder. Eu tinha sede pelo futuro. Hesitei de novo. Pensei mais uma vez em como seria maravilhoso se aquele botão realmente funcionasse e me levasse para um mundo novo, bem mais avançado que esse presente medíocre. Apertei o botão.

Acordei e era futuro. Confesso que me espantei um pouco, mas eu sabia que aquela viagem no tempo iria acontecer um dia.

Foto por riviera2005

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